sexta-feira, 17 de julho de 2009

Amigos,

Encaminho EM ANEXO um “artigo/revisão bibliográfica” que elaborei.

"A fragmentação do ambiente e a viabilidade das futuras gerações"

Sugiro imprimir este corpo de mail, assim como o artigo EM ANEXO, para facilitar a leitura. Cada parágrafo traz informações bem importantes.

Toda vez que discutimos assuntos complexos, “corremos o risco” da problematização. Isto ocorre principalmente quando o assunto em questão envolve opiniões, especialmente aquelas vinculadas às crenças, à fé e à política.

As pessoas se sentem, inclusive, agredidas ou ofendidas diante de alguns pontos.

Algumas pessoas me consideram um “metido” quando exponho minhas idéias de maneira enfática, como foi o ultimo texto que elaborei (“cheio de paixões” como me disse um amigo).

Por isso, desta vez (livre de paixões), venho fundamentado.

Neste texto EM ANEXO, trago elementos provocadores e desafiadores. E o objetivo é esse mesmo: provocar questionamentos e discussões.

E “quanto mais progride a problematização mais penetram os sujeitos na essência do objeto problematizado e mais capazes são de desvelar esta essência” (FREIRE, 1980, p. 89).

Alguns podem achar demasiada a quantidade de referências bibliográficas. Mas daí questiono, como já disse o poeta: “Quais são as palavras que nunca são ditas?” Se autores de renome disseram de maneira perfeita determinado ponto, por que não citá-los?

Mas a minha intenção com esta provocação ou problematização é DIALOGAR.

Por que, afinal, como disse Paulo Freire na “Matriz Dialógica” : “é a partir do diálogo que é possível problematizar a realidade”.

Minha intenção nada mais é do que dialogar.

(...) o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tão pouco tornar-se simples troca de idéias a serem consumidas pelos permutantes. (FREIRE, 1983, p. 79).

(...) ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo, pelos objetos cognoscíveis (...) (FREIRE, 1983. P. 79).

“O ser humano aprende na relação com o outro, com o mundo, mediatizados pelo ato de conhecer, produzindo saberes em relação a contextos”. (ECCO, 2004, p. 38).

A condição necessária para a indagação está assentada no diálogo. E, mediante a intercomunicação, a troca de saberes, os conhecimentos mitificados e ingênuos são superados.

A reflexão conjunta e a troca de idéias permitem o surgimento de uma consciência crítica sobre a realidade, abandonando a consciência ingênua predominante.

O mesmo autor é lembrado na passagem: “(...) através do diálogo podemos olhar o mundo e a nossa existência em sociedade como processo, algo em construção, como realidade inacabada e em constante transformação”.

Ao ser consciente implica o agir consciente sobre a realidade constituindo a unidade dialética entre ação-reflexão, teoria e prática. O sentido inovador e instigante da proposta freireana consiste em conceber o conhecimento crítico-humanizador na perspectiva de cultivar a abertura do ser humano enquanto ser inacabado.

A educação deve ser processo de humanização do mundo, pois conhecimento com sentido serve de instrumento de intervenção crítica e criativa no mundo para transformá-lo e humanizá-lo. A educação é um processo guiado por ações planejadas, intencionais, que buscam a superação do nível da consciência ingênua para a posição de criticidade.

Não podemos ser meros observadores da realidade. E em cada vez que expressamos nossa opinião ou atuamos na educação, sempre estará presente o ato político. Não há educação neutra, pois toda educação é um ato político, bem como qualquer pratica política é pedagógica.

A intervenção da realidade é o ponto central deste principio, onde todos passam a se considerar atores do contexto, atuando de diversas formas nesta realidade. O movimento de observação da realidade, a reflexão sobre seu papel social, histórico e político nesta realidade, a readmiração da importância de suas ações e, finalmente, a intervenção dentro de seu contexto, molda o método de Freire como uma metodologia eminentemente política.

- Para que as pessoas se tornem capazes de transformar seu próprio mundo politicamente, é necessária uma ampliação de sua visão de mundo e este processo só pode ser alcançado através do diálogo. Através do diálogo, as pessoas são desafiadas a refletir sobre seu papel na sociedade. -

Ainda ressaltando a “Matriz Dialógica”, faz-se necessário propor aos sujeitos o desafio de cultivar uma postura dialógica e crítica diante do mundo, que os faça ter compromisso em assumirem-se enquanto seres epistemologicamente curiosos diante dos fatos, realidades e fenômenos que constituem o próprio mundo.

Os sujeitos que dialogam abrem-se para o novo e sabem que há sempre algo a interpretar, descobrir, aprender, dizer e a compartilhar. São abertos a questionamentos e não temem conflitos. Quanto mais o sujeito pergunta, mais sente que sua curiosidade não se esgota.

Submeter as ações ao questionamento requer abertura e reconhecimento de que não há saber absoluto, nem ignorância absoluta. Abertura para descobrir que há sempre novas realidades e/ou elementos a descobrir, novos conhecimentos, caminhos e perspectivas múltiplas de ação, considerando diferentes contextos e sujeitos.

A realidade deve ser compreendida pelo diálogo crítico problematizador que brota das comunidades humanas em suas experiências vitais, concretas. O processo de construção do conhecimento é visto como um todo e se constitui numa relação dialógico-comunicativa.

O homem não vive isolado, ele pensa, age, fala, comunica-se com os outros. Por isso, Freire diz que não é o sujeito que fundamenta o seu pensar, mas a presença dos outros. É o pensamento coletivo que explica o saber individual. O processo de conhecer implica compromissos éticos e políticos, de intervenção crítica no mundo. A epistemologia freireana é revolucionária constituindo-se na unidade dialética entre ação-reflexão-ação (práxis), que requer testemunho da ação (coerência).

O sentido revolucionário de conscientização constitui-se em processo educativo e epistemológico na libertação do ser humano das amarras que o oprimem e da visão ingênua do mundo que o cerca. Consiste no desenvolvimento crítico da tomada de consciência. O desenvolvimento da consciência crítica se dá pela educação problematizadora- libertadora, num processo dialético-dialógico da busca permanente de reelaboração do conhecimento e da transformação ético-política da realidade histórico-cultural.

Promover um estudo da realidade, sua compreensão e representação numa visão de totalidade é romper com o senso comum. Isso ocorre assumindo uma postura crítica e a problematização constante.

“Desafiar constantemente é uma das características do ato de educar; do contrário, contribui-se para o obscurantismo, para o ‘silenciar’ de consciências”. (ECCO, 2004, p. 69).

A Leitura de Mundo tem importância fundamental na vida das pessoas. Entendemos, com Luckesi (2003, p. 119) que “[...] a leitura, para atender o seu pleno sentido e significado deve, intencionalmente, referir-se à realidade. Caso contrário, ela será um processo mecânico de decodificação de símbolos”. Ler o mundo consiste em problematizar, analisar e compreender a realidade em que estamos inseridos.

A partir da leitura de mundo, os seres humanos abertos aos diferentes objetos cognoscíveis presentes na realidade que os cerca, são capazes de transcender suas percepções já elaboradas e atingir novos níveis de percepção da realidade, ampliando conhecimentos.

O sujeito cognoscente é um ser situado em sua cultura, sociedade e instituições a que pertence existencialmente. Logo, sua consciência não é vazia, porém condicionada pelo contexto.

A inquietação indagadora (o ato de perguntar) é a condição primordial para estimular o desejo de conhecer, o desejo de buscar esclarecimento, superando assim o pensamento ingênuo, alienado/alienante. No entanto, a passagem da ingenuidade para a criticidade não se dá automaticamente.

{[ Ah ! Pois é .... ]}

(...)

A possibilidade dessa prática, como citada anteriormente, conforme analisa Zitkoski (2000, p. 215) “[...] requer o compromisso do ser humano de assumir-se enquanto ser epistemologicamente curioso diante dos fatos, realidades e fenômenos constitutivos de seu próprio mundo [...]”.

- Conhecer, problematizar a realidade significa investigar, pesquisar, desvelar e interagir. É desafiar as pessoas a pensar criticamente numa perspectiva de globalidade, conhecer melhor o que já conhecem, levantarem hipóteses, confrontarem teorias, idéias e posições e tirarem suas próprias interpretações dos fatos, resolvendo problemas. -

Desencadear a atividade intelectual e desafiá-los a atingirem níveis cada vez mais profundos e amplos do saber. Dialogando, oportuniza o encontro dos sujeitos que questionam determinada realidade. Colocar o mundo como objeto de conhecimento significa provocar as pessoas a compreenderem de modo crítico a sua ação e a de outros sujeitos sobre o contexto histórico.

Sobre o texto EM ANEXO:

Começo o texto contextualizando uma escala mais ampla de realidade, em um nível planetário, apenas para mostrar que há muito mais entre o céu e a terra do que nos diz o elaborado argumento civilizatório/colonialista atuante sobre as massas hoje em dia, inclusive vastamente presente nos dogmas religiosos.

Acredito em uma visão mais abrangente, antropológica e “até mesmo biológica “ da presença do ser humano em sua etapa evolutiva no Planeta Terra.

Após, explico como se criaram as instituições e a Ordem Estabelecida. Para entender como tudo começou especialmente no Brasil, onde as velhas oligarquias, desde as capitanias hereditárias do período colonial, ainda detém a concentração de terra, o poder econômico e o poder parlamentar.

Os mesmos grupos do período inicial da “colonização do Brasil(ou descobrimento ??) são os mesmos orientadores das políticas de uso e ocupação das terras utilizáveis, assim como toda a política de créditos e incentivos clientelistas.

Comento o resultado e as transformações desta linha de ação sobre o ambiente e os problemas gerados a partir daí.

A questão da preservação do ambiente, por conseguinte, se revela não somente em uma ideologia “eco-politicamente correta”, mas em uma ação urgente a fim de viabilizar a nossa própria viabilização como espécie neste planeta.

As transformações decorrentes do uso mal planejado do ambiente causam, em última análise, o desequilibro climático e estão afetando (e afetarão ainda muito mais) as condições de homeostase da vida na Terra.

Quando comento sobre gestão de macro paisagens, comento sobre alguns conceitos importantes para entender o assunto, tais como: Ecologia da Paisagem, Biogeografia de lhas e Metapopulações.

Talvez numa análise rápida, seja apenas “mais um texto” sobre “efeito de borda”, como tantos por aí.

Mas não considero assim. Entro neste assunto apenas para mostrar que há muito mais coisa envolvida e que o nosso conhecimento a respeito do ambiente é pífio frente as milhões de variáveis inerentes ao tema.

- A questão principal do tema é como a fragmentação de habitats (em ilhas) põe em risco a vida de todas as espécies, simplesmente por uma questão de fisiologia básica: A floresta, juntamente com a fauna, regula o clima. PONTO FINAL. -

Quando se investiga alguns pontos, observa-se que, mesmo com o esforço de ambientalistas, a discussão não evolui como deveria, simplesmente pelo fato do paradigma dominante ser extremamente alicerçado e difícil de ser mudado.

Ainda mais no tocante a “ÁREAS UTILIZÁVEIS”, onde os grupos dominantes decidem como serão as transformações, as políticas, créditos, etc..., enfim: os rumos a serem seguidos.

Por aqui já soma um novo assunto (para outro artigo): a questão da revisão do código florestal e as reservas legais das propriedades. Mais uma vez a discussão do uso da terra e seu planejamento. Por incrível que pareça, estes grupos dominantes acreditam que podem viver sem o ambiente, direcionando áreas utilizáveis somente em prol de uma agricultura forte! A natureza é um inimigo a ser vencido, um problema, algo supérfluo (a sujeira do campo...).

O argumento principal dos grupos sociais hegemônicos é a questão da renda perdida nas áreas utilizáveis “abandonadas” a título de reserva legal. Em relação a este assunto, já está em curso outro artigo, juntamente com o sociólogo Diego Airoso, sobre a diversidade de opções geradoras de renda na pequena e média propriedade rural. A agricultura familiar já responde em valores atuais por cerca de 10 % do PIB nacional, aproximadamente 180 bilhões de reais por ano, R$ 85 bilhões somente o RS (o total do agronegócio brasileiro gera cerca de 30 % do PIB).

Ou seja: existem opções de conciliar ambos os lados, preservação (com manejo) e ganhos econômicos e sociais. A questão principal é O MÉTODO. Mas isto entrará em outro artigo.

Resultado: quem pensa diferente não tem voz. E o povo é levado cada vez mais a ser burro e passivo em relação a tudo, enquanto as mídias impressas ou áudio-visuais estampam em primeira página manchetes completamente PARCIAIS e TENDENCIOSAS, contribuindo ainda mais para a ignorância e a alienação (mentes colonizadas, como diz Bautista Vidal).

Embora pareça que a finalidade do texto EM ANEXO seja meramente alarmar catastroficamente uma situação iminente, saliento que não é este o caso.

O objetivo central é gerar uma discussão sobre as saídas existentes. E uma delas é a conscientização. Pouquíssimas pessoas pensam no assunto com a importância que deveriam.

A única mensagem alarmante que deixo é o fator TEMPO.

Quanto tempo será necessário para que um número significativo de pessoas deixe de tratar este assunto como tema de ficção científica de filmes de Hollywood?

Quanto de ambiente ainda será necessário fragmentar para entendermos a importância do Planeta como um ser vivo, que respira e pulsa, servindo como carne, onde a espécie humana age como uma bicheira, parasita burro, pois mata seu hospedeiro. Se este hospedeiro (Planeta) é impossibilitado de executar seus processos naturais de maneira harmônica, o desequilíbrio é visível.

(...)

Volto a citar Paulo Freire:

“A reflexão conjunta e a troca de idéias permitem o surgimento de uma consciência crítica sobre a realidade, abandonando a consciência ingênua predominante”.

“A condição necessária para a indagação está assentada no diálogo. E, mediante a intercomunicação, a troca de saberes, os conhecimentos mitificados e ingênuos são superados”.


Boa leitura. Aguardo resposta.

ATT,

Eduardo Alves

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CORDENONSI, A. Z., MÜLLER, Felipe Martins, BASTOS, Fábio da Purificação de. “A Matriz Dialógica Problematizadora como uma Estrutura para o Exame e a Discussão Temática de uma Disciplina de Graduação Mediada por Tecnologia” In: Atas da IV Escola de Verão sobre Investigação-Ação Educacional. UFSM, Santa Maria, RS, 1999.

DAMKE, Ilda Righi. O processo do conhecimento na pedagogia da libertação: as idéias de Freire, Fiori e Dussel. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

_________ Educação e mudança. 23. ed. Rio de Janeiro; Paz e Terra, 1979.

_________Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 7 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1998.

_________ Política e Educação. 4. ed. São Paulo, Cortez, 2000.

ECCO, Idanir. A prática educativa escolar problematizadora e contextualizada: uma vivência na disciplina de história. Erechim, RS: EdiFAPES, 2004.

ECCO, Idanir. O conhecimento na pedagogia freireana como suporte teórico para a educação escolar formal. URI – Campus de Erechim/RS. idanir@uri.com.br.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 13. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

LUCHESI, C. C. (et. al.) Universidade: uma proposta metodológica. 13. Ed. São Paulo: Cortez, 2003.

STRECK, Danilo R, REDIN, Euclides, ZITKOSKI, José (org). “Dicionário Paulo Freire”. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

ZITKOSKI, Jaime José. Horizontes da refundamentação em educação popular. Frederico Westphalen: Ed. URI, 2000.

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